sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Meu primeiro acampamento











Acampar já é algo muito emocionante, o contato com a essencia, com a mãe terra, com os instintos humanos, e ainda mais em um lugar tão longe de sua cidade natal, do seu país, realmente algo que te abre a mente, o coração e o esírito de guerreiro.

Primeiro a viagem de bóte, o frio, o contato com os índios caçadores, com as crianças, com a natureza, com a cultura Dene, algo que vai ficar guardado pra sempre na minha memória.

O primeiro acampamento é em cabanas, dois dias para se acostumar com frio e sem nenhum tipo de conecção virtual, o que eu achei o máximo. A alimentação ainda é minha maior dificuldade, ainda muito alimento enlatado. Levantar 6 horas da manhã no primeiro dia para ir resgatar alguns peixes no rio foi o primeiro contato com a vida natural. Também aprendi a abrir o peixe, limpar, e separar as partes comestíveis, não imaginava que o estômago fosse algo tão apreciado.

Algumas atividades foram selecionadas, o tão popular hand game, o jogo nativo, resgatar lenha para na floresta, pegar franboesa, construir cabanas na mata, construir tambores, andar de canoa e rodas com bastão para cada um falar o que esta sentindo, o que espera dos próximos dias, e sempre com a palvra respeito sendo pronunciada em varias ocasiões. Respeito pela mata, pelos animais, pelo próximo, pela água, pelo sól e lua, pelo criador.



Por enquanto estavamos todos juntos, umas 20 crianças, 2 professores, 2 índios (1 professor e outro caçador) e eu. Depois desses dois dias chegaram mais 6 bótes, mais caçadores.. fomos separados, e ai sim começava a aventura de verdade. 4 horas rio a dentro, procurando o melhor lugar para acampar. Eu, Nogha e Blake (kids), e o caçador Philipi. No bóte o frio é ainda mais intenso. Um pouco antes da chegada paramos em uma cabana abandonada com forno a lenha para aquecer nossos corpos. Enfim chegamos ao lugar escolhido por Philipi, uma espécie de restinga, que fica entre o rio e a mata. Primeiro levantamos o lugar aonde seria a suposta cozinha, com alguns galhos e lonas, nos protegemos da chuva que é pouca mais incomoda um pouco e nos alimentamos antes de continuar o nosso pequeno assentamento, alguns pães e uma carne enlatada que não consegui identificar o que era.

O lugar aonde dormiríamos é de lona e também com galhos virgens. Um bom machado é muito útil.


A fogueira é sempre a primeira coisa a ser feita, para aquecer os corpos e água para chá. A árvore mais abundante, com suas folhas é feito um chá que protege a garganta.


Pronto nosso nicho, de volta ao bóte em busca do grande Alce Canadense. Este sim é o principal objetivo do acampamento, é uma especie de ritual em que sua carne é abençoada e também é sinal de fartura.


Os outros seis bótes, cada um acampou a uma distancia de 10 á 20 minutos de distancia cada um.


Primeiro dia nada, vi apenas muitos patos e esquilos na floresta. Os ursos também são presentes nessa região, mas não vi nenhum, são perigosos.


Segundo dia amanhaceu com sól, e depois de um café da manhã com bacon, óvos e torradas, tipicamente americano, fomos novamente a caça ao Mousse como é chamado aqui o Alce. Nem sinal do bicho. Comemos, nos alimentamos, bife de porco, salsicha enlatada, hamburguer, e feijão enlatado, para quem é, quer dizer foi, vegetariano e naturalista, continua sendo meu maior desafio, rompendo rótulos. Mais um dia sem ver o danado.

Terceiro dia tivémos a sorte grande, ou o azar, sei lá, fomos os primeiros a capturar o animal.

Confesso que fiquei um tanto quanto nervoso, um tiro e ver aquele animal tão forte, veloz e belo, despencar ao som de uma rajada, alguns minutos em estado de chóque. Aquilo quebrava em mim alguns conceitos. Depois abrir o animal ali mesmo, arrancar sua cabeça como um troféu.. (querem que eu continue?) ...abri-lo todo, manchar minhas mãos com sangue quente, e colocar suas partes no bóte para levar ao primeiro acampamento, aonde as mulheres esperávam com ansiedade algum bóte premiado. O meu foi o primeiro.

Mais 4 horas de viagem, alguns tiros pro alto sinalizavam um momento de vitória, foi divertido chegar com o animal fomos recepcionados com aplausos. Neste dia voltamos a cidade para dormir e tomar banho, ímpossível no mato, geeelo.

No outro dia cedo voltamos ao acampamento, aonde outros caçadores tinham conseguido mais um mousse e um castor. Aqui eu sou chamado de Aaron Beaver no inglês, ou Aaron TSA no slave, ou no português Aaron Castor, por eu ser um Beaver Voluntear. O castor é um animal gordo e tem o tamanho de um cachorro, patas natatórias e um ótimo alimento. Eu não consegui comer.

Mais alguns dias caçando patos e guisões. E voltamos ao primeiro acampamento aonde ficaríamos todos juntos, homens e mulheres, crianças e adultos, sábios e voluntários como eu e Victória, uma colombiana que esta trabalhando em uma comunidade vizinha, Fort Simpson, apenas 400km, foi bom falar em português de novo, e ela em espanhól.

Nesse último dia teve rituais de gratidão com duas índias xamanicas, aonde pude aprender algumas músicas, danças, chás medicinais e aprender mais sobre a cultura Dene.

Os animais foram separados em partes de 500 gramas aproximadamente em plasticos. Seriam distribuidos para toda a cidade. Esta parte foi a mais interessante, a chegada na cidade, toda a comunidade nos esperava com fotos, aplausos, música nativa com tambores, nos recebendo como heróis, e eu fui o primeiro a descer e ser abraçado por algumas pessoas (primeiros abraços que recebo no Canadá). Foi emocionante. Mais um ritual e a distribuição da carne.

A natureza no Canadá e principalmente aqui aonde estou vivendo é muito interessante, começando pelo rio, antes da lua cheia estava muito calmo, as vezes parecia imóvel, depois da virada ondas de meio metro que já faz a adrenalina subir a bordo dos barcos. Na mata o único perigo são os ursos, que é raro encontrar um. Não tem animais nocivos como aranhas e outros, nenhum mosquito, e a mata virgem e plana torna o lugar com um ar de paz, aonde vc pode respirar tranquilo por ter a certeza que esta seguro o tempo todo, uma terra que a única lei que rege é da própria natureza que é abençoada pelo NOTSI (criador em slave).



Também a primeira vez que vejo neve, pouca mas já fez eu escutar as crianças gritando Ééériinnn, Érinn, Érian, Érin, Érian, meu nome.





Me sinto mais forte, mais guerreiro, sentir a plenitude também é um presentão. Agora espero a próxima aventura, o próximo desafio e vou descrevendo aqui, para meus amigos e familia se sentirem mais próximos apesar da distância.






TSA

Nenhum comentário:

Postar um comentário