sábado, 31 de outubro de 2009

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Trocando

Depois de um mês de adaptação, do choque cultural, sinto que agora as coisas começam a melhorar. Meu trabalho começou a fazer um sentido maior. Minha missão está começando a clarear.
Lembram do pequeno Jeff? Aquele menino extremamente arteiro e com um imenso espírito de liberdade que ninguém na escola pode com ele? Pois é.. ele é minha missão.
Eu recebi um plano de aula para "cuidar" dele. Ele foi separado de todos os alunos e seu único professor sou eu.
De manhã cedo sempre foi muito difícil, pendurar sua jaqueta no ármario, trocar a bota pelo tênis interno, 3 letras do alfabeto por dia, café da manhã na cozinha, logo após contas simples de matemática, depois jogos educativos no computador, esporte, biblioteca, microscópio e almoço. Até chegar e esse ponto ele já tinha sido mandando embora para casa porque teria disparado o alarme de incêndio, falar umas besteiras para os professores (essa parte não tenho muito problema porque não entendo, rsrs!), entrado em salas de aulas de outras turmas, se fingir de morto no meio do corredor depois sair correndo em disparada fugindo de todo mundo.. e rindo.. claro! Além de brincar de se esconder comigo o tempo todo, só que só ele se esconde, não tinha muita graça pra mim.. rsrs.. Mas depois do almoço o plano é o seguinte: primeiro eu conto uma história social, como fazer um favor.. e ele desenha uma ação. Depois iríamos para fora do colégio fazer algum exercício, que eu não imaginava o que poderia ser. Duas semanas tentando esse plano e nada.. até... ONTEM!
Ontem tive um insight, uma luz, que me disse para não encostar nele e nem levantar a vóz, ser calmo, pleno, na paz.. confesso que era diferente, por ver como os outros professores o tratam, "ninguém tem paciência comigo", ninguém tem mesmo, e eu ia na onda. Como ontem mudei meu modo de ser, na verdade eu voltei a ser eu mesmo, me encontrei e comecei a enxergá-lo de outra forma. Ele fez o plano todo. E para minha surpresa, a parte extra escola, quem é o professor é ele meu amigo.
Pequeno Guerreiro.. não tem outra definição, quanto eu via suas atitudes, alguma coisa me dizia que ali dentro tem um índio forte, eu estava certo. Os professores me falam que ele tem problemas mentais porque a mãe bebia na gravidez. Eles estão enganados.
O que ele foi me ensinar a caçar coelhos silvestres, ( o Canadá é um país enorme, com pouquíssimas pessoas, sem terra para plantar qualquer alimento porque é muito frio, e muitos animais, livres, em abundância) com armadilha, snar (não sei o nome em português). Snar é muitos simples, com arame, faz-se um círculo e coloca-se no caminho dos coelhos, é muito interessante ver como é a vida selvagem, na mata. Colocamos 8 snars ontem e mais 5 hoje, fechando 13.
Voltando a falar do pequeno Jeff, ou Little Jeff, porque o professor que também ajudo é Big Jeff, sinto-me honrado de estar trocando com essa criatura, ver o cuidado que ele tem comigo, me indicando o melhor lugar para pisar, atravessamos um lago congelado, me ensinando os melhores lugares para colocar snars, como não se perder na mata e como dispistar o cheiro humano, esfregando uma planta cheirosa nas mãos. Ontem fomos só com as armadilhas, hoje ele já veio com uma machadinha, fósforos para fazer-mos uma fogueira, e até um sanduíche que compartilhou. Outro momento interessante foi ele começar a fazer um trabalho sem falar nada, como se estivesse preparando uma surpresa, cortou algumas pequenas árvores e fez um banco, e confortável.
Hoje foi um dos meus melhores dias aqui até agora.
Continuarei compartilhando minhas experiências.
Deixo uma foto do guerreiro e sua ferramenta de trabalho.

PS:. Se observarem ao fundo da foto que tem um machadinho, tem um SNAR armado. Dá para ver salvando em seu computador e utilizando um zoom.

A parada aqui é roots irmão!

O GUERREIRO








quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Plantando sementes

Há dias venho me questionando com relação a alimentação. Em um país com uma economia tão forte, a alimentação é tão fraca. Passei alguns dias refletindo, como será passar 10 meses assim. Em uma das minhas viagens a Yellowknife (capital do estado) tive a sorte de encontrar o nosso tão abençoado feijão de cada dia orgânico e a granel, claro que 20x mais caro que no Brasil. Ontem tive a idéia de plantar os grãos em sala de aula, junto com os alunos, depois do almoço que é o horário do intervalo aqui.
Almoçando hoje com os professores (geralmente sou mais observador, se eu for falar tudo que penso de uma vez só volto para o Brasil no dia seguinte, rsrs! ) alguns começaram a falar sobre a alimentação, sobre os enlatados e sobre o que cada um comia. Começou a ficar interessante, uns 7 professores discutindo, até que jogaram a bola pra mim, senti que esse era o momento de abrir a boca, sim, falei tudo que pensava a respeito e expliquei como é no Brasil. Você ter uma horta em casa, plantar suas hortaliças, orgânica, comer frutas do pé, variedade de frutas, vegetais, etc.. Comida de verdade, aqui é de mentira, transgênica, como já havi falado antes. Mas a melhor parte é que eu estava com os feijões organicos na minha mochila e mostrei para os professores, os olhares de espanto e curiosidade, como se eles estivéssem vendo aquilo pela primeira vez, ganhei metade do dia, porque ainda viria as crianças.
Todos os dias as crianças se atrasam pelo menos meia hora, antes do intervalo eu falei sobre o projeto e esperava todos na hora exata. Carácas bixo!! A minha alegria de ver todos esperando ansiosos na porta me fez arrepiar. Peguei terra boa, copos de isopor (infelizmente não achei outra alternativa sustentável), água, luz, as fases da lua, expliquei tudo, e as sementes.. parecia que eles não acreditavam que era de verdade e que poderia ter uma vida ali.
Agora só me resta confiar nas sementes, que os frutos virão.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Snow!! Neve!!


Branca como a luz da lua.
Esse é um dos dois mercados da cidade.
Bombeiro, boleiro, zeca balero,
banana, amendoin, Hellowenn.

sábado, 17 de outubro de 2009

1 mês


ao sól que vai se pondo

a auróra que vem surgindo

aos amigos que lá deixei

e aos cuidados da grande familia

o verdadeiro alimento da alma

da seiva elaborada do encanto

da pronúncia correta da anarquia

eis aqui

novo surgir em rumo

observando

ando

amando não mais que a natureza

o ser húmus

humano


Aaron Ramathan

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Today











olhares angulares

Pensamentos que voam
permeando corações
crianças brasileiras
orações diversar
culturas difusas
feijão com arroz
um violero toca
rio congela
frio aperta
mente aberta

A.R.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Meu primeiro acampamento











Acampar já é algo muito emocionante, o contato com a essencia, com a mãe terra, com os instintos humanos, e ainda mais em um lugar tão longe de sua cidade natal, do seu país, realmente algo que te abre a mente, o coração e o esírito de guerreiro.

Primeiro a viagem de bóte, o frio, o contato com os índios caçadores, com as crianças, com a natureza, com a cultura Dene, algo que vai ficar guardado pra sempre na minha memória.

O primeiro acampamento é em cabanas, dois dias para se acostumar com frio e sem nenhum tipo de conecção virtual, o que eu achei o máximo. A alimentação ainda é minha maior dificuldade, ainda muito alimento enlatado. Levantar 6 horas da manhã no primeiro dia para ir resgatar alguns peixes no rio foi o primeiro contato com a vida natural. Também aprendi a abrir o peixe, limpar, e separar as partes comestíveis, não imaginava que o estômago fosse algo tão apreciado.

Algumas atividades foram selecionadas, o tão popular hand game, o jogo nativo, resgatar lenha para na floresta, pegar franboesa, construir cabanas na mata, construir tambores, andar de canoa e rodas com bastão para cada um falar o que esta sentindo, o que espera dos próximos dias, e sempre com a palvra respeito sendo pronunciada em varias ocasiões. Respeito pela mata, pelos animais, pelo próximo, pela água, pelo sól e lua, pelo criador.



Por enquanto estavamos todos juntos, umas 20 crianças, 2 professores, 2 índios (1 professor e outro caçador) e eu. Depois desses dois dias chegaram mais 6 bótes, mais caçadores.. fomos separados, e ai sim começava a aventura de verdade. 4 horas rio a dentro, procurando o melhor lugar para acampar. Eu, Nogha e Blake (kids), e o caçador Philipi. No bóte o frio é ainda mais intenso. Um pouco antes da chegada paramos em uma cabana abandonada com forno a lenha para aquecer nossos corpos. Enfim chegamos ao lugar escolhido por Philipi, uma espécie de restinga, que fica entre o rio e a mata. Primeiro levantamos o lugar aonde seria a suposta cozinha, com alguns galhos e lonas, nos protegemos da chuva que é pouca mais incomoda um pouco e nos alimentamos antes de continuar o nosso pequeno assentamento, alguns pães e uma carne enlatada que não consegui identificar o que era.

O lugar aonde dormiríamos é de lona e também com galhos virgens. Um bom machado é muito útil.


A fogueira é sempre a primeira coisa a ser feita, para aquecer os corpos e água para chá. A árvore mais abundante, com suas folhas é feito um chá que protege a garganta.


Pronto nosso nicho, de volta ao bóte em busca do grande Alce Canadense. Este sim é o principal objetivo do acampamento, é uma especie de ritual em que sua carne é abençoada e também é sinal de fartura.


Os outros seis bótes, cada um acampou a uma distancia de 10 á 20 minutos de distancia cada um.


Primeiro dia nada, vi apenas muitos patos e esquilos na floresta. Os ursos também são presentes nessa região, mas não vi nenhum, são perigosos.


Segundo dia amanhaceu com sól, e depois de um café da manhã com bacon, óvos e torradas, tipicamente americano, fomos novamente a caça ao Mousse como é chamado aqui o Alce. Nem sinal do bicho. Comemos, nos alimentamos, bife de porco, salsicha enlatada, hamburguer, e feijão enlatado, para quem é, quer dizer foi, vegetariano e naturalista, continua sendo meu maior desafio, rompendo rótulos. Mais um dia sem ver o danado.

Terceiro dia tivémos a sorte grande, ou o azar, sei lá, fomos os primeiros a capturar o animal.

Confesso que fiquei um tanto quanto nervoso, um tiro e ver aquele animal tão forte, veloz e belo, despencar ao som de uma rajada, alguns minutos em estado de chóque. Aquilo quebrava em mim alguns conceitos. Depois abrir o animal ali mesmo, arrancar sua cabeça como um troféu.. (querem que eu continue?) ...abri-lo todo, manchar minhas mãos com sangue quente, e colocar suas partes no bóte para levar ao primeiro acampamento, aonde as mulheres esperávam com ansiedade algum bóte premiado. O meu foi o primeiro.

Mais 4 horas de viagem, alguns tiros pro alto sinalizavam um momento de vitória, foi divertido chegar com o animal fomos recepcionados com aplausos. Neste dia voltamos a cidade para dormir e tomar banho, ímpossível no mato, geeelo.

No outro dia cedo voltamos ao acampamento, aonde outros caçadores tinham conseguido mais um mousse e um castor. Aqui eu sou chamado de Aaron Beaver no inglês, ou Aaron TSA no slave, ou no português Aaron Castor, por eu ser um Beaver Voluntear. O castor é um animal gordo e tem o tamanho de um cachorro, patas natatórias e um ótimo alimento. Eu não consegui comer.

Mais alguns dias caçando patos e guisões. E voltamos ao primeiro acampamento aonde ficaríamos todos juntos, homens e mulheres, crianças e adultos, sábios e voluntários como eu e Victória, uma colombiana que esta trabalhando em uma comunidade vizinha, Fort Simpson, apenas 400km, foi bom falar em português de novo, e ela em espanhól.

Nesse último dia teve rituais de gratidão com duas índias xamanicas, aonde pude aprender algumas músicas, danças, chás medicinais e aprender mais sobre a cultura Dene.

Os animais foram separados em partes de 500 gramas aproximadamente em plasticos. Seriam distribuidos para toda a cidade. Esta parte foi a mais interessante, a chegada na cidade, toda a comunidade nos esperava com fotos, aplausos, música nativa com tambores, nos recebendo como heróis, e eu fui o primeiro a descer e ser abraçado por algumas pessoas (primeiros abraços que recebo no Canadá). Foi emocionante. Mais um ritual e a distribuição da carne.

A natureza no Canadá e principalmente aqui aonde estou vivendo é muito interessante, começando pelo rio, antes da lua cheia estava muito calmo, as vezes parecia imóvel, depois da virada ondas de meio metro que já faz a adrenalina subir a bordo dos barcos. Na mata o único perigo são os ursos, que é raro encontrar um. Não tem animais nocivos como aranhas e outros, nenhum mosquito, e a mata virgem e plana torna o lugar com um ar de paz, aonde vc pode respirar tranquilo por ter a certeza que esta seguro o tempo todo, uma terra que a única lei que rege é da própria natureza que é abençoada pelo NOTSI (criador em slave).



Também a primeira vez que vejo neve, pouca mas já fez eu escutar as crianças gritando Ééériinnn, Érinn, Érian, Érin, Érian, meu nome.





Me sinto mais forte, mais guerreiro, sentir a plenitude também é um presentão. Agora espero a próxima aventura, o próximo desafio e vou descrevendo aqui, para meus amigos e familia se sentirem mais próximos apesar da distância.






TSA